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Mostrando postagens de outubro 29, 2017

Raios cósmicos e a Grande Pirâmide

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"Os egípcios não eram um povo de mentalidade esotérica", escreve o antropólogo e arqueólogo Paul Jordan em sua contribuição para o livro Archaeological Fantasies . "Mesmo os rituais de Osíris eram bem menos esotéricos que os mistérios de Elêusis dos gregos (...) O Livro dos Mortos pode ser obscuro e fantástico, mas não é uma composição esotérica". A ideia do Egito Antigo como uma terra de mistérios e segredos esotéricos escondidos por trás de uma mitologia alegórica, a ser interpretada por iniciados, é uma invenção tardia, surgida no período posterior à conquista do país por Alexandre Magno e amplificada na Europa da Renascença e, depois, na Era Vitoriana. Por conta disso, é uma grata surpresa encontrar, na literatura científica, um verdadeiro mistério egípcio -- e envolvendo não só uma das pirâmides como, também, raios cósmicos! Vamos lá: três experimentos envolvendo detectores de múons -- partículas criadas pela colisão de raios cósmicos com a atmosfera, e

Cidadãos-cientistas vs. mosquitos

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Um aplicativo de celular, Mosquito Alert , pelo qual cidadãos comuns podiam reportar avistamentos do mosquito-tigre ( Aedes albopictus ), um vetor de doenças como dengue e zika, mostrou-se mais eficiente para monitorar a invasão da espécie na Espanha do que os métodos tradicionais de vigilância, que dependem da colocação de armadilhas para capturar ovos dos insetos, diz artigo publicado em Nature Communications . "Nosso sistema fornece informações acuradas de aviso prévio sobre o mosquito na Espanha, muito além do disponível via métodos tradicionais, e vitais para os serviços de saúde pública", escrevem os autores. "Estes resultados ilustram o quanto a participação pública na ciência pode ser poderosa, e indica que a ciência cidadã está em posição de revolucionar a vigilância das doenças transmitidas por mosquitos em todo o mundo". Esta nota fez parte da newsletter enviada a assinantes na semana passada.

Leituras para Halloween e adjacências

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Muito tempo atrás, numa galáxia muito distante (na verdade, há uns 20 anos, e por aqui mesmo) eu escrevia histórias de terror. Muitas. Algumas até ganharam uns prêmios por aí. Saíram em fanzines xerocados de papel, em livros de editoras obscuras (e que fecharam, ou mudaram de linha editorial, há tempos). Ano passado, no entanto, boa parte dessa produção acabou reunida num livro só, de uma editora muito viva, a Draco. É este aqui : Também tenho uns contos avulsos publicados em e-book, como este aqui , sobre vampiros e este outro , com lobisomem. Há quem diga que a coisa mais assustadora que já escrevi foi este conto de ficção (pseudo)científica , mas não vou dar palpite a respeito. Claro, se alguém quiser aproveitar o período para refletir sobre a trêmula e periclitante base factual por trás de coisas como possessões e exorcismo, tenho O Livro dos Milagres . E para quem estiver a fim de se livrar de uma superstição antiga, há O Livro da Astrologia . A venda dessas obras ajuda a

Monstro de Loch Ness como "fake news"

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Em 1983, o livro The Loch Ness Mystery Solved , de Ronald Binns, obteve aquele feito raro no mundo da literatura sobre mistérios do mundo real: apresentou, de fato, a solução do problema. Em pouco mais de 200 páginas, Binns destrincha cuidadosamente o caso do lago escocês, mostrando como uma série de testemunhos vagos, notícias sensacionalistas, fraudes e brincadeiras (porque, claro, o ser humano é um animal intratável) acabou moldando a narrativa de uma criatura pré-histórica vivendo em Loch Ness. Agora em 2017, mais de 30 anos depois de seu triunfo, Binns publica um novo volume, The Loch Ness Mystery Reloaded , em que revisita a evidência coligida para o livro de 1983, atualiza alguns pontos -- por exemplo, incluindo a confissão do criador do dinossauro de brinquedo que gerou a famosa foto do monstro de 1934 (a "Fotografia do Cirurgião", abaixo) e reinterpreta a gênese do mito sob o enfoque atual das "fake news". O momento zero da lenda do Monstro de