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Mostrando postagens de novembro 20, 2016

Racionalidade é dever moral?

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Ética da Crença é o título de um ensaio escrito no século 19 pelo filósofo e matemático britânico  William Clifford , em que ele afirma que "é errado, sempre e em qualquer lugar, acreditar em alguma coisa com base em evidência insuficiente". Um dos pontos centrais do argumento de Clifford era a parábola (por assim dizer) do barqueiro devoto: um homem que acredita, com tamanha fé, que Deus protege seu barco que se recusa a realizar os trabalhos mínimos de manutenção (afinal, o que é o talento de um mero barqueiro diante da mão protetora da Onipotência?). Mas um belo dia o barco afunda, matando todos a bordo. O senso-comum  diria que a culpa foi da negligência do barqueiro, mas Clifford insiste que a culpa foi da crença : o barqueiro acreditava, do fundo do coração, que Deus protegia seu barco, e sua negligência foia penas uma consequência lógica disso. Ele só foi negligente porque foi coerente com sua fé. A tragédia foi o fim inevitável de uma cadeia lógica iniciada pela

Congelado para o futuro: round 2016

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"Criônica" é o nome dado à tecnologia/crença/negócio de congelar corpos humanos inteiros, ou pelo menos o cérebro, com vistas à ressuscitação futura. Como dispositivo de enredo em obras de ficção, o tema já foi usado em praticamente todo tipo de história, mas também há empresas que oferecem serviços criônicos atuando no mundo real (dado o estado atual da tecnologia e as regras de proteção ao consumidor, elas não podem prometer ressuscitação, assim, com todas as letras, mas apenas vender o "serviço de custódia" do cadáver congelado). Já tratei desse assunto em outras oportunidades, mas dois artigos publicados no fim da semana passada me convenceram a voltar a ele. O primeiro é do site The Engineer , sobre o caso de uma menina britânica de 14 anos que ganhou, na Justiça, o direito de ser congelada após a morte. De acordo com a notícia (que, por algum motivo, escapou aos ávidos caçadores de sensacionalismo da mídia nacional), "o veredicto veio pouco antes de

O tombo de Plutão

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Dois artigos na edição da última semana da revista Nature exploram explicações para características da Planície Sputnik, uma área gelada que compõe parte do “coração” branco fotografado na superfície de Plutão pela sonda New Horizons. A planície é formada por gelo de nitrogênio, metano e monóxido de carbono, com vários quilômetros de espessura. Um dos artigos, escrito em parceria por pesquisadores dos EUA e do Japão, nota que Sputnik está alinhada com o eixo que une Plutão a sua maior lua, Caronte, e propõe que essa localização pode ser explicada por um “rolamento” de Plutão – uma mudança de cerca de 60º no eixo do planeta-anão – causado pelo acúmulo da massa de gelo na planície ao longo do tempo. “A Planície Sputnik provavelmente formou-se ao noroeste de sua localização atual e foi carregada com materiais voláteis ao longo de milhões de anos”, diz o artigo. O segundo trabalho, de autoria de pesquisadores baseados nos Estados Unidos, conclui que a reorientação da Sputnik implica

Trump e a Nasa

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O presidente-eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, deve redirecionar os esforços da Nasa, enfatizando a exploração do espaço profundo e reduzindo o prestígio dos setores da agência voltados para o monitoramento do clima terrestre, dizem fontes da mídia especializada. As missões voltadas para ciências climáticas e geociências deverão ser transferidas para outro órgão federal, a Administração Nacional de Oceano e Atmosfera (NOAA). Durante o governo Obama, a divisão de Ciências da Terra da Nasa viu seu orçamento crescer, e lançou uma série de satélites para o acompanhamento de fenômenos como a elevação do nível dos mares. (Esta nota faz parte da Coluna Telescópio)