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Mostrando postagens de março 6, 2016

Nos tempos do óleo de cobra

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Quem tem alguma familiaridade com westerns conhece a figura do vendedor de óleo de cobra: um tratante que vai de cidade em cidade, a bordo de uma carroça vistosa e colorida, vendendo preparados de composição misteriosa e duvidosa salubridade, com a promessa de curas milagrosas. Os "óleos de cobra" dos Estados Unidos representaram um desdobramento dos chamados "remédios de patente" britânicos, que originalmente deviam o nome ao fato de terem recebido cartas-patente de figuras ilustres (por exemplo, membros da família real) autorizando o uso do nome da celebridade em material publicitário. Depois, a expressão passou a ser aplicada a qualquer gororoba que tivesse um nome ou marca registrado. Os primeiros remédios de patente, datados do século XVIII, eram "elixires", soluções de ervas amargas "medicinais" em álcool. Muitos sobrevivem até hoje, mas agora vendidos cono licores, bitters ou cordiais. No lado não-alcoólico do espectro, a coca-col

Considerações sobre a polarização

Uma coisa que costumo dizer, quando me convidam para dar palestras sobre divulgação científica, é que é possível encontrar pesquisa feita sobre praticamente qualquer tema relevante que se possa imaginar. Digo isso para sugerir às pessoas que debates acalorados não precisam ser baseados só em afeto e palavrão, mas que dá pra trazer dados à mesa. Mesmo que os dados sejam falhos, inconclusivos ou passíveis de distorção, eles pelo menos ajudam a mapear o terreno em disputa. Por exemplo: existe uma literatura ampla sobre o fenômeno social e psicológico da polarização , quando pessoas assumem atitudes extremas e se veem incapazes de levar o adversário a sério -- qualquer pessoa menos extrema ou está vendida ou é idiota. E quem está no polo oposto é vendido e idiota. É verdade que muito dessa literatura tem como foco a situação norte-americana, mas do jeito que andamos mimetizando as dinâmicas e o jargão de lá, tanto à esquerda ("empoderamento", "blackface") quanto à

Reprodutibilidade na economia, racismo na justiça

O Projeto Reprodutibilidade: Psicologia , que no ano passado reportou falhas na tentativa de reprodução de cerca de metade de 100 importantes experimentos da área, gerou um filhote, na economia: tentativa de reprodução de 18 experimentos laboratoriais da área  -- em que voluntários são divididos em grupos e, em interações que lembram jogos, têm de tomar decisões econômicas sob diferentes circunstâncias -- é reportada na edição mais recente da Science , e com resultados bem mais promissores que os da psicologia. Por sua vez, o periódico    Journal of Quantitative Criminology  traz um   levantamento sobre os resultados de 17 mil julgamentos realizados no Estado da Carolina do Sul, e conclui que réus negros primários, acusados de crimes leves, tendem a ser condenados a penas mais pesadas que brancos nas mesmas condições. A disparidade racial desaparece quando os réus já têm extensa ficha criminal e cometem delitos mais graves. Essas e outras notas estão no Telescópio do Jornal da Unic