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Mostrando postagens de novembro 20, 2011

A 'dívida' do Ocidente para com o cristianismo

Volta e meia esbarro por aí com alguém soltando a velha conversa fiada de que as grandes conquistas da Civilização Ocidental são uma dádiva do cristianismo para o mundo. Ela ressurge, de modo nada surpreendente, neste artigo de Ives Gandra, publicado na Folha de S. Paulo . Como eu pessoalmente partilho da opinião de Bertrand Russell -- para quem a única contribuição positiva do cristianismo foi o calendário, com seu sistema até que relativamente estável e racional de anos bissextos -- resolvi fazer aqui um rápido catálogo de desmentidos para, talvez, orientar os mais desavisados. Vamos lá: Sem o conceito de um deus único, responsável pela ordem natural, a ciência, como busca de regularidades e leis na natureza, teria sido filosoficamente impossível, e estaríamos até hoje imersos em superstições. Papo furado. A ideia de que eventos naturais são explicáveis por meio de causas naturais regulares remonta (pelo menos) a Tales de Mileto , uns 500 anos AEC. Foi o cristianismo que nos

Quem tem medo do materialismo?

Uma nota recente sobre a busca de uma espiritualidade laica pelo Partido Verde , somada a um artigo publicado no meio do ano na revista Free Inquiry , intitulado Repackaging Humanism as 'Spirituality' ("Reembalando o Humanismo como 'Espiritualidade' ") acabou chamando minha atenção para (mais uma) das armadilhas semânticas armadas pelo condicionamento cultural religioso: o tabu em torno da palavra "materialismo", e o senso de superioridade moral e estética umibilicalmente ligado a qualquer coisa "espiritual". A coisa é quase pavloviana: "espiritual" é bom, generoso, elevado, faz sorrir; "materialismo" é feio, grosseiro, superficial, traiçoeiro; dá um nó nas entranhas. Mas, como já dizia Carl Sagan, não deveríamos pensar com as entranhas. Daí: qual, exatamente,  o problema com o materialismo? Antes de mais nada, vamos limpar um pouco a atmosfera e distinguir entre o que poeríamos chamar de "materialismo moral&qu

Semana cheia: utopia e lançamento!

Esta semana transcorrerá, como costumavam dizer antigamente, em ritmo febril. Na terça-feira, tem a Jornada de Estudos sobre Utopia e Ficção Científica , na Unicamp, que vai tratar de temas que vão da obra de Octavia E. Butler a Berilo Neves , e na qual terei uma modestíssima participação, num diálogo com o pesquisador Alfredo Suppia sobre como é fazer ficção científica no Brasil. Imediatamente depois, na quarta-feira, acontece o esperadíssimo (ao menos, para mim) lançamento de O Livro dos Milagres , obra que escrevi em ritmo frenético no início deste ano e que a Vieira & Lent, num esforço heroico, conseguiu pôr no mercado em menos de nove meses.  Já escrevi sobre o livro neste blog anteriormente, mas talvez alguns dos meus leitores não saibam que uma espécie de "capítulo-trailer" está disponível no Amálgama . Blogagem autobiográfico/confessional sempre me pareceu uma coisa meio babaca -- uma das minhas implicâncias com a literatura contemporânea é a de que, se eu