Messenger em órbita!

A sonda Messenger, da Nasa, entrou em órbita de Mercúrio na noite de ontem. Trata-se do primeiro objeto artificial a assumir uma órbita estável ao redor do menor planeta do Sistema Solar. Orbitar Mercúrio, a meros 46 milhões de quilômetros do Sol, é um desafio de desaceleração -- basicamente, a sonda precisa se livrar de toda a energia que ganhou ao mergulhar no fosso de gravidade do Sol.

(Para quem lê, ou lia, gibis da Marvel, parar na órbita de Mercúrio depois de fazer toda a trajetória na direção do Sol é mais ou menos como o Demolidor tentando se agarrar a um poste de luz depois de cair do alto do Empire State Building).

Por conta disso, a sonda vinha, desde 2007, realizando uma série de manobras na vizinhança de Mercúrio e do Sol para, basicamente, perder velocidade. Agora, em 2011, ela finalmente está voando devagar o suficiente para ficar aprisionada na órbita do planetinha. Antes da Messenger, Mercúrio só havia sido visitado por uma outra sonda, a Mariner 10, em 1975. A Mariner só havia conseguido fotografar metade da superfície do planeta.

Mercúrio é meio parecido com a Lua -- ao menos visualmente -- mas é um mundo cheio de características especiais: sendo o planeta mais próximo do Sol, a temperatura em sua superfície atinge picos de 427º C no lado iluminado e vales de -173º C no lado escuro.

(Para quem duvida do poder do CO2 como um gás do efeito estufa: Vênus, cuja atmosfera é dominada por dióxido de carbono e que fica duas vezes mais longe do Sol que Mercúrio, tem uma temperatura constante de 462º C -- estável, em toda a superfície.)

Durante muito tempo, imaginou-se que Mercúrio teria a rotação travada por efeito de maré: em outras palavras, que manteria sempre a mesma face voltada para o Sol, do mesmo jeito que a Lua sempre mostra a mesma face para a Terra. Hoje, sabe-se que não é bem assim: Mercúrio completa uma volta em torno do próprio eixo a cada 58 dias terrestres, e uma volta em torno do Sol a cada 88 dias terrestres -- ou seja, o ano dura mais ou menos um "dia mercuriano" e meio.

A composição desses dois movimentos, de rotação e translação, faz com que o "dia solar" de Mercúrio -- você pode pensar nisso como o intervalo entre dois meios-dias, como medidos por um relógio de Sol na superfície do planeta -- seja de quase 176 dias terrestres.

Mercúrio é basicamente uma bola de ferro: seu núcleo metálico corresponde a 75% do diâmetro total do planeta, que é de 5.000 km, ou 40% diâmetro da Terra.

Em vez de atmosfera, tem o que a Nasa chama de "exosfera", um tênue halo de átomos expelidos pelo impacto das partículas do vento solar. Além da Terra, Mercúrio é o único planeta sólido do Sistema Solar e ter um campo magnético global. O campo de Mercúrio interage de formas muito interessantes com o do Sol.

Uma curiosidade sobre Mercúrio é que, por convenção internacional, as crateras de Mercúrio recebem nomes de artistas e escritores. Ali há uma Cratera Camões, uma Byron, uma Brahms; Hemingway, Mark Twain e Gabriela Mistral também estão lá, bem como Proust, Shakespeare e Picasso.

As letras e artes brasileiras estão representadas pelas crateras Alencar (homenagem a José de Alencar, nome aprovado em 1979), com pujantes 105 km de diâmetro, e Amaral (homenagem a Tarsila do Amaral, nome aprovado em 2008), com 108 km de diâmetro. Abaixo, a localização da cratera Alencar, a leste de Chopin, sudeste de Shelley e sul de Michelangelo (clique para ampliar):

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